Rio fecha
temporariamente museu e prédios históricos para obra do VLT
Publicado
em 16/07/2018 - 18:05
Por Akemi
Nitahara - Repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro
O Museu Histórico e Diplomático
do Itamaraty está temporariamente fechado ao público por causa das obras da
Linha 3 do VLT (veículo leve sobre trilhos), que ligará a Central do Brasil ao
Aeroporto Santos Dumont, ambos na região central do Rio de Janeiro. O
fechamento é necessário para preservação do acervo, que pode ser danificado pela
trepidação provocada pelo maquinário da construção civil.
Para evitar riscos, até o fim das obras do VLT, peças do acervo do museu
ficarão cobertas (Tomaz Silva/Agência Brasil)
A recomendação foi feita pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Estão sendo
embaladas todas as peças do museu, que somam cerca de 5,5 mil itens, entre
móveis, quadros, esculturas, mapas, medalhas, livros e documentos, incluindo
todo o arquivo diplomático do país até a transferência do Ministério das
Relações Exteriores para Brasília, em 1970. O próprio palácio também está
recebendo reforços na estrutura, proteção no piso e vedação das portas e
janelas voltadas para a Avenida Marechal Floriano, onde estão sendo construídos
os trilhos do bondinho moderno.
Segundo o subchefe da
Administração do Escritório de Representação do Itamaraty no Rio de Janeiro,
Glauber Vivas, após a construção das primeiras fases do VLT, constatou-se a
necessidade de proteger melhor o patrimônio, e o Iphan determinou que fossem
tomadas medidas adicionais para os bens tombados. Ele informou que o museu está
fechado desde o começo de julho e, que se tudo correr bem, o trabalho pode
terminar no dia 27. "Poderíiamos até reabrir no dia 28, mas apenas para
acesso ao prédio, as peças estarão todas cobertas".
Vivas destacou que, além disso, será implantada uma rede de proteção no teto e que, por isso, a circulação ficará limitada, embora não proibida. Ele acrescentou que será usado na região um equipamento que provoca menos vibração no entorno do que as britadeiras tradicionais.
Vivas destacou que, além disso, será implantada uma rede de proteção no teto e que, por isso, a circulação ficará limitada, embora não proibida. Ele acrescentou que será usado na região um equipamento que provoca menos vibração no entorno do que as britadeiras tradicionais.
Depois de concluídas as obras do
VLT, previstas para o início de dezembro, todo o acervo será desempacotado, e o
museu será montado novamente e reaberto ao público ainda naquele mês. Os
serviços administrativos e consulares não foram interrompidos, bem como o
arquivo histórico, que continua aberto aos pesquisadores.
Vivas informou que também está em
andamento um projeto de restauração e revitalização do museu e de todo o
complexo do Itamaraty no Rio, que envolve mais três prédios. De acordo com
Vivas, os projetos executivos devem ficar prontos no primeiro semestre do
próximo ano, para depois serem buscados os recursos para executar o trabalho.
Segundo Vivas, o projeto é
anterior e independente da questão do VLT. "No ano passado, foram feitos
vários estudos e discutiu-se com Brasília para apresentar a ideia de
restauração e revitalização do complexo. A deterioração do bem deve-se à
escassez de recursos, e a revitalização visa, entre outras coisas, a angariar
recursos para o museu. Em abril, foi assinado o convênio com o Instituto Pedras
para isso, que está apresentando um projeto para a Lei Rouanet para o
desenvolvimento de projetos executivos de restauração e gestão dos
espaços do museu.”
Patrimônio
histórico
Também são tombados na Marechal
Floriano os prédios da Light, o Campus Centro do Colégio Pedro II, a
Igreja Matriz de Santa Rita e o Banco Central, antiga Caixa de Amortização. De
acordo com o Iphan, todos os bens tombados recebem “atenção e acompanhamento
por ocasião de intervenções, neles ou em seu entorno”, embora não exista o
risco da obra na rua prejudicar a estrutura dos prédios.
“Todos os bens tombado que estão
no 'caminho' do VLT tiveram, quando necessário, os elementos de suas fachadas
protegidos/escorados para que a trepidação proveniente das máquinas não
trouxesse qualquer avaria”, informou o órgão, que também tem “acompanhado o
projeto de implantação do VLT minuciosamente”.
A Igreja de Santa Rita está sendo
escorada, e uma equipe de arqueologia acompanha as escavações, pois no local pode haver um dos
primeiros cemitérios para africanos recém-chegados ao país. No prédio da Light,
vizinho ao do Itamaraty, a fachada recebeu uma tela de proteção para evitar
prejuízos, e a construção é monitorada durante as escavações e a perfuração do
solo. A Light informa que não foram identificados riscos para o Museu da Ligh,
que também fica no local.
O Colégio Pedro II e o Banco
Central foram procurados pela reportagem para saber as providências feitas por
causa da obra em cada instituição, mas ainda não responderam ao pedido da
reportagem.
A Companhia de Desenvolvimento
Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp), órgão da prefeitura
responsável pela parceria público-privada de implantação do VLT, informa que a
conclusão das obras está prevista para dezembro deste ano e que não deu
orientação para que o museu feche as portas. O único impacto da obra sobre o
prédio seria a restrição temporária no acesso ao imóvel, “alinhado com a
instituição, conforme alinhamento padrão com todas as instituições da rua,
ouvindo demandas e atendendo, na medida do possível, especificidades de cada
um”.
Segundo o Consórcio do VLT, as
obras da Linha 3 seguem as orientações de Instrução Normativa do Iphan para
preservação do patrimônio. “O trecho da nova linha, que ligará a Central do
Brasil ao Santos Dumont via Marechal Floriano, contará com três novas paradas e
tem previsão de operação no fim do ano”, informou o VLT.
História
e acervo diplomático
Conforme pesquisa feita pelo
historiador e diplomata Guilherme Frazão Conduru, como parte do Plano
Museológico do Museu Histórico e Diplomático, o Palacete Itamaraty foi
construído entre 1851 e1854, com projeto atribuído ao arquiteto brasileiro José
Maria Jacinto Rebelo, aluno de Grandjean de Montigny, professor da Academia
Imperial de Belas Artes que veio para o Brasil na missão artística francesa.
O proprietário era Francisco José
da Rocha Filho, o conde de Itamaraty, um rico comerciante português que
provavelmente imigrou para o Brasil, ainda criança, com o pai militar no
comboio que acompanhou a família real.
Rocha Filho morreu em1883 e, em
1890, o governo provisório de Deodoro da Fonseca comprou o edifício da Marquesa
de Itamaraty e faz do local o palácio presidencial para residência. Em 1897 a
sede do Poder Executivo federal e residência presidencial são transferidas para
o Palácio do Catete, e o Itamaraty recebe, em 1899, o Ministério das Relações
Exteriores.
Trepidação de máquinas no entorno do museu poderia prejudicar obras do
acervo (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Após concursos para escolher
pintores, escultores e arquitetos para ornar e reformar o local, em 1955 foi
criado pelo Decreto nº 38.312, de 15 de dezembro, o Museu Histórico e
Diplomático do Itamaraty, com a finalidade de “guarda e exposição pública de
móveis, objetos, alfaias e documentos de valor histórico, artístico ou
diplomático existentes no Palácio Itamaraty, ou que venham a ser incorporados
ao patrimônio”. O museu foi inaugurado no dia 28 de janeiro 1957 pelo então
presidente Juscelino Kubitschek.
Com a transferência do Ministério
das Relações Exteriores para Brasília em 1970, o Palácio Itamaraty no Rio de
Janeiro e o Museu Histórico e Diplomático são fechados, mas o acervo é
preservado. Restaurado, o museu foi reaberto ao público no dia 21 de outubro de
1983, integrando as próprias salas do palácio. Após estragos provocados por uma
forte chuva em 1986, o local passou por novos reparos e foi reinaugurado em
1989, permanecendo fechado ao público até 1994. Foi novamente reaberto no dia
18 de maio com a presença do então presidente Itamar Franco.
Na pesquisa, Guilherme
Conduru aponta como destaques do acervo o próprio palácio neoclassicista de
inspiração italiana, que integra um pequeno conjunto de exemplares de
arquitetura residencial urbana da classe senhorial da corte do Império, ao lado
do Palácio do Catete e do Solar da Marquesa de Santos. Porém, o local nunca foi
ocupado como residência, sendo usado em ocasiões festivas e protocolares, como
o baile oferecido ao conde d' Eu para celebrar o fim da Guerra do Paraguai em
junho de 1870. A família morava no sobrado construído ao lado do palácio.
Nas primeiras décadas do século
20, foi construído novo prédio para ampliação dos serviços do Ministério das
Relações Exteriores, em estilo neorrenascentista, ao lado do palácio. Em 1930,
após nova reforma para adaptar o prédio para o uso por órgão público, foi
inaugurado também o novo edifício construído para abrigar o arquivo, a
biblioteca e a mapoteca da pasta. O Palácio Itamaraty foi tombado pelo
patrimônio nacional em 1938, ano em que foram inaugurados os tombamentos no
país.
A catalogação do acervo lista
5.562 itens unitários, classificados em 2.457 peças, já que alguns compõem
conjuntos. As peças são classificadas em armaria; cerâmica e porcelana;
desenhos; projetos; fotografias; documentação manuscrita e gráfica;
documentação sonora; escultura; sigilografia e filatelia; gravura;
indumentária; medalhística; mobiliário; numismática; ordens honoríficas;
ourivesaria; pintura; prataria; têxteis; vidros e cristais; instrumentos de
precisão; luminárias; memória do Ministério das Relações Exteriores;
etnografia; e diversos.
O Palácio Itamaraty é composto por 78 salas ou espaços e tem 218 portas, além de pintura europeia do século 19, mobiliário luso-brasileiro dos séculos 17I, 18 e 19 e pintura brasileira dos séculos 19 e 20. Entre os destaques estão obras de Jean Baptiste Debret, Castagnetto, Navarro da Costa, Pedro Américo, Vitor Meirelles e Antônio Parreiras.
O Palácio Itamaraty é composto por 78 salas ou espaços e tem 218 portas, além de pintura europeia do século 19, mobiliário luso-brasileiro dos séculos 17I, 18 e 19 e pintura brasileira dos séculos 19 e 20. Entre os destaques estão obras de Jean Baptiste Debret, Castagnetto, Navarro da Costa, Pedro Américo, Vitor Meirelles e Antônio Parreiras.
Edição: Nádia
Franco
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