Olimpíadas
terão gosto amargo para o Rio de Janeiro, diz Le Figaro
Publicado em 04-01-2016 Modificado em 04-01-2016 em 15:56
Destaque no jornal francês Le Figaro
desta segunda-feira para os JO de 2016.
A oito meses da
realização das Olimpíadas, o jornal francês Le Figaro desta
segunda-feira (4) sugere que o legado do grande evento esportivo para o Rio de
Janeiro não será tão benéfico como insistem os organizadores. O período de
preparação tem sido um tormento para os moradores e algumas obras afetaram até
o meio ambiente, afirma o jornal.
A Cidade
Maravilhosa saiu de um longo período de sonolência e se transformou em um
imenso canteiro de obras a céu aberto, de acordo com a reportagem assinada pela
correspondente Lamia Oualalou.
A visita ao Museu
do Amanhã, inaugurado em dezembro, é o ponto de partida para analisar os
efeitos já visíveis das mudanças que os Jogos trouxeram à cidade.
A obra do arquiteto
espanhol Santiago Calatrava, que virou até motivo de piada, não deixa ninguém
indiferente. O museu foi escolhido pela prefeitura para simbolizar a
revitalização do centro do Rio desde que a cidade foi escolhida para sediar as
Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016.
Os cariocas
redescobrem certas áreas, como a zona portuária do centro com a inauguração do
Museu do Amanhã, mas o cotidiano se tornou um "inferno" por causa de
muitas obras. E mais: "a metamorfose urbana do Rio não é
unanimidade", comenta o jornal.
Comparação com
Barcelona
O presidente do
Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, diz que as Olimpíadas do Rio
deixarão um imenso legado, comparável com as de 1992 para Barcelona. Le
Figaro recorda que durante uma cerimônia oficial, há um ano dos Jogos, Bach
comemorou que 63% dos habitantes do Rio de Janeiro terão acesso a transportes
públicos, contra 13%, em 2009.
Mas nem todos
pensam que a cidade vai melhorar depois da passagem da tocha olímpica, diz a
reportagem. O grande problema urbano do Rio - o hiato entre as áreas residenciais
e comerciais-, não será resolvido.
O texto traz
índices para revelar a disparidade: o centro oferece 38% dos empregos, mas
apenas 8% dos moradores vivem ali. Por outro lado, 31% das construções de novas
moradias são na Barra da Tijuca, onde a oferta de emprego é de apenas 7%. Concretamente,
os cariocas passa cerca de quatro horas em congestionamentos, informa o diário.
O Parque Olímpico tem 94% das obras concluídas.Renato Sette Câmara/Prefeitura
do Rio
Aumento das
desigualdades
Entrevistado
por Le Figaro, o urbanista Fabrizio de Oliveira, da UFRJ, estima
que que a única herança do evento será o aumento das desigualdades. Com os
Jogos, somados ao fluxo de capitais ligado à exploração petrolífera, os preços
dos imóveis subiram até 260% em cinco anos, tornando as áreas centrais
inacessíveis para as classes média e pobre.
O jornal lembra
ainda que 20 mil famílias tiveram que ser desalojadas devidos às obras das
Olimpíadas e foram obrigadas a se instalar a 40 km de distância, bem longe dos
centros urbanos e dos empregos.
O biologista
Marcelo Mello denuncia ainda que a construção de um campo de golfe, que será
usado por quatro dias durante os Jogos dizimou cerca de 200 espécies de
animais, muitas delas ameaçadas de extinção.
A prefeitura se
vangloria de não ter gasto um tostão com a obra esportiva, mas o jornal lembra
que, em troca, o proprietário do terreno ganhou o direito de construir diversos
prédios com uma vista espetacular para a praia.
Sem a obrigação de
promover uma mistura de classes sociais, o empreendimento virou um lucrativo
negócio para os investidores em imóveis comerciais, observa o artigo.
Vitrine
questionável
Le Figaro diz ainda que
o Rio de Janeiro é o estado brasileiro mais afetado pela
crise econômica do país e além de sofrer com a queda dos
preços do petróleo, também sente a paralisia provocada pelo escândalo da
Petrobras. O cenário inverteu a tendência, e provocou a queda dos preços dos
imóveis e até do interesse em áreas comerciais.
A situação, indica
o jornal, pode obrigar os imóveis destinados a escritórios a se transformarem
em alojamentos sociais. As Olimpíadas não costumam ser a vitrine mundial como
normalmente propalada, e no caso do Rio de Janeiro, servirão para mostrar que o
futuro da cidade dependerá mais dos próprios cariocas, conclui o jornal.
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